sábado, 13 de agosto de 2011

Da confiança que devemos ter em Maria, como nossa Mãe

Por Santo Afonso Maria de Ligório

Deinde dicit discipulo: Ecce mater tua — «Depois diz ao discípulo: Eis aí tua mãe» (Jo 19, 27)

Sumário. Se Jesus Cristo é o Pai de nossas almas, porque as regenerou à vida da graça, Maria, que é a Mãe verdadeira de Jesus, deve igualmente ser chamada nossa Mãe espiritual, porque pelas suas dores cooperou para nossa redenção. Ponhamos, pois, nela a nossa confiança e sejamos quais crianças que têm sempre o nome de mãe na boca e em qualquer perigo levantam a voz e chamam sua mãe em socorro. Para sermos, porém, facilmente atendidos, imitemos as suas virtudes, especialmente as que são próprias do nosso estado.

I. Não é por acaso, nem debalde, que os devotos de Maria a chamam Mãe, e parece que não sabem invocá-la com outro nome, nem se fartam de chamá-la Mãe. Mãe, sim, porque se Jesus Cristo, reconciliando-nos com Deus, se fez Pai de nossas almas, conforme a predição do Profeta: Pater futuri saeculi (Is 9, 6) — «Pai do século futuro», Maria deve ser chamada e é verdadeiramente nossa Mãe espiritual.

Segundo a explicação dos Doutores, esta grande Mãe pelo seu amor gerou-nos à graça, quando consentiu em que o Verbo Eterno se fizesse seu filho, porque, no dizer de São Bernardino de Sena, ela desde então pediu a Deus com afeto imenso a nossa salvação, e de tal sorte a procurou, que bem se pode dizer que desde então nos trouxe em suas entranhas como mãe amorosíssima. Pelo que Santo Ambrósio aplica à Virgem as palavras dos sagrados Cânticos: Venter tuus sicut acervus tritici, vallatus liliis (Cant 7, 2) — «Teu seio é como um monte de trigo, cercado de açucenas».

O tempo em que Maria nos deu à luz, foi quando (vendo o amor do Eterno Pai para com os homens, em querer seu Filho morto pela nossa salvação, e o amor do Filho em querer morrer por nós), afim de conformar-se com este amor excessivo do Pai e do Filho para com o gênero humano, ela também consentiu com toda a sua vontade, que seu Filho morresse, e fez o doloroso sacrifício dele no Calvário. — E isto quis exatamente dizer nosso Salvador, quando, antes de expirar, olhando para sua Mãe e acenando para o discípulo predileto, lhe disse: Mulier, ecce filius tuus (Jo 19, 26) — «Mulher, eis aí teu filho». Como se lhe dissesse: Eis aí o homem que em consequência da oferta que tu fazes de minha vida pela sua salvação, já nasce para a graça; eu te declaro sua mãe.

II. Alegrai-vos todos os que sois filhos de Maria; e que temor tendes de vos perder, quando esta Mãe vos defende e protege? Eis que ela nos chama e nos convida para junto de si: Si quis est parvulus, veniat ad me (Prov 9, 4) — «Todo o que é pequeno, venha a mim». — As crianças têm sempre na boca o nome da mãe; em qualquer perigo que se vejam, logo se lhes ouve levantar a voz e dizer: Mãe, Mãe! É isto exatamente o que a Virgem deseja de nós. Ela nos quer salvar, como já tem salvado tantos filhos seus; por isso quer que, quais crianças, nunca nos afastemos do seu lado e a invoquemos em todos os perigos: Todo o que é pequeno, venha a mim.

Ó minha Mãe Santíssima, como é possível que, tendo mãe tão santa, seja eu tão perverso; tendo mãe tão abrasada no amor de Deus, tenha eu de amar as criaturas; tendo mãe tão rica de virtudes, seja eu tão pobre? Ó Mãe amabilíssima, não mereço mais, é verdade, ser vosso filho; indigníssimo de tal me fiz por minha vida desregrada. Basta-me ser admitido no número de vossos servos. Sim, isto me basta; entretanto não me proibais de vos chamar também minha Mãe.

O vosso nome de Mãe me consola, enternece o meu coração, e me recorda a obrigação que tenho de vos amar. Este nome me inspira grande confiança em vós. Quando a lembrança dos meus pecados e da justiça divina me enchem de terror, sinto-me todo confortado ao pensar que sois minha Mãe. Permiti, pois, que vos diga: Minha Mãe, minha Mãe amabilíssima! Assim vos chamo e vos quero sempre chamar. Depois de Deus, vós deveis ser sempre minha esperança, meu refúgio e meu amor, enquanto estiver neste vale de lágrimas. Assim é que espero morrer, entregando, ao dar o último suspiro, a minha alma entre vossas mãos benditas, e dizendo-vos: Ó minha Mãe, ó Maria, minha Mãe, ajudai-me, tende compaixão de mim! (*I 17.)

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LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 265-267.

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