sábado, 11 de julho de 2015

“…QUE ESTAIS NO CÉU…”

Entre as disposições necessárias àquele que reza, a confiança tem uma importância considerável. Quem pede alguma coisa a Deus, diz São Tiago, (1,6) faça-o com confiança e sem hesitação.
O Senhor, no princípio da Oração que nos ensinou, expõe os motivos que fazem nascer a confiança.
Primeiro, a complacência do Pai: Pai Nosso. Depois, diz o Senhor (Lc 11, 13): Vós que sais maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos; quanto mais dará vosso Pai celeste, do alto dos céus, àqueles que lhe pedem, seu bom Espírito.
Um outro motivo de confiança é a grandeza e o poder do Pai, o que nos faz dizer ao Senhor não apenas Pai nosso, mas Pai nosso que estais no céu. O Salmista também diz: (Sl 122, 1) Elevei meus olhos para vós que habitais nos céus.
O Senhor usou a expressão que estais no céu por três razões diferentes.
Em primeiro lugar, esta expressão tem por objeto preparar a oração, como nos recomenda o Eclesiástico (18, 23): Antes da oração, preparai vossas almas. Seguramente, o pensamento de que nosso Pai está nos céus, isto é, na glória celeste, nos prepara para lhe dirigirmos nossas súplicas.
Na promessa do Senhor a seus Apóstolos (Mt 5, 12): vossa recompensa será grande nos céus, a expressão «nos céus» tem igualmente o sentido de «na glória celeste».
A preparação da oração se realiza pela imitação das realidades celestes, pois o filho deve imitar seu pai. Assim, São Paulo escreve aos Coríntios (I, 15,49): Como revestimos a imagem do homem terrestre, é preciso também revestirmos a imagem do homem celeste.
A preparação para a oração requer também a contemplação das coisas celestes. Os homens têm por hábito dirigir freqüentemente o pensamento para o lugar onde está seu pai e onde se acham os outros seres, objetos de seu amor, segundo a palavra do Senhor (Mt 6, 21): Lá onde está o teu tesouro, também está teu coração. Foi por isso que o Apóstolo escreveu aos Filipenses (3,20): Nos céus está a nossa morada.
A preparação da oração reclama, enfim, que aspiremos às coisas celestes. Àquele que está nos céus devemos pedir coisas celestes, como nos diz São Paulo (Cl 3, 1): Procurai as coisas do alto, lá onde está o Cristo.
Em segundo lugar, as palavras «Pai nosso que estais no céu» podem significar a facilidade que tem Deus de ouvir as nossas preces, porque está próximo de nós. Aquelas palavras significam então: Pai nosso que estais nos santos. Com efeito, Deus habita nos santos.
Jeremias diz (14, 9): Senhor, Vós estais em nós. Os santos são realmente chamados «céus», segundo essas palavras do Salmo 18,12: «Os céus proclamam a glória de Deus».
Ora, Deus habita nos santos pela fé. São Paulo escreve aos Efésios (3, 17): Que Cristo habite em vossos corações pela fé.
Deus também mora nos santos pela caridade. Aquele que habita na caridade, diz São João (I, 4, 16), habita em Deus e Deus nele.
Deus mora ainda nos santos pela realização dos mandamentos. Se alguém me ama, declara o Senhor (Jo 14,23), guarda minha palavra e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.
Em terceiro lugar, «que estais nos céus» se refere à eficácia do Pai ao nos ouvir. Neste caso a palavra «céus» designa céus materiais e visíveis; não que queiramos dizer, com isso, que Deus está encerrado no céu corpóreo, pois está escrito (2 Rs 18, 27): Eis que os céus e os céus dos céus não vos podem conter; mas estas palavras «que estais nos céus» mostram:
a) que Deus, por seu olhar, é clarividente e penetrante, porque vê do alto. Ele olhou de sua santa altura, diz o Salmo 101,20;
b) que Deus é sublime em seu poder, segundo a palavra do Salmista (102, 19): O Senhor dispôs seu trono, nos céus;
c) que Deus é estável em sua eternidade, segundo outras palavras (Sl 101, 13 e 28): Senhor, permaneceis eternamente e vossos anos, não têm fim. Por isto, diz-se de Cristo (Sl 88, 30): Seu trono é como o dia do céu, isto é, sem fim, como a duração do que é celeste. E o Filósofo confirma, com sua autoridade, a justeza desta comparação, quando faz notar em seu tratado «docéu»: «Por causa de sua incorruptibilidade, o céu é olhado por todos, como sendo a morada dos puros espíritos».
Estas palavras «que estais nos céus» dirigidas ao Pai, no momento da oração, nos dão um triplo motivo de confiança, que repousa:
a) sobre o poder de Deus;
b) sobre a amizade de Deus, que nós invocamos;
c) sobre a conveniência de nosso pedido.
a) O poder do Pai que nós imploramos nos é sugerido pela expressão: «que estais nos céus», se por céus compreendermos os céus materiais e visíveis. Sem dúvida, Deus não está encerrado nos céus materiais, pois nos diz em Jeremias (23, 24): Encho o céu e a terra; diz-se, entretanto, «estais nos céus» para insinuar a virtude de sua natureza.
Contra aqueles que afirmam que tudo vem necessariamente pela influência dos corpos celestes e negam a utilidade de se pedir qualquer coisa a Deus pela oração — como são tolos! — dizemos a Deus: «que estais nos céus» e ali está, por virtude de Seu poder, como Senhor dos céus e das estrelas, seguindo a palavra do Salmo (102, 19): O Senhor preparou seu trono nos céus.
E também contra aqueles que em suas preces constroem e compõem imagens corpóreas de Deus, é na intenção deles que dizemos: «que estais nos céus». Desta sorte: pelo que há de mais elevado nas coisas sensíveis, nós lhes mostramos a sublimidade de Deus, que ultrapassa a tudo, incluindo o desejo e a inteligência dos homens, e assim tudo que se possa pensar e desejar é inferior a Deus. É por isto que está escrito no livro de Jó (32, 26): Deus égrande e ultrapassa nossa ciência, e no livro dos Salmos (Sl 112, 4): O Senhor se elevou acima de todas as nações. E Isaías declara (40, 18): A quem tendes vós assemelhado Deus?
b) Muitos disseram que Deus, pelo fato de estar tão alto, não cuida das coisas humanas. É preciso, ao contrário, pensar que Ele está próximo de nós, e que está intimamente presente em nós. Esta familiaridade de Deus com o homem nos é apontada pelas palavras da Oração Dominical «que estais nos céus», se as entendemos assim: «vós que estais nos santos». Os santos são os céus, segundo a palavra do salmista (18,2): os céus mostram a glória de Deus e também Jeremias (14,9): Estais no Senhor.
Esta intimidade de Deus com os homens nos inspira dois motivos de confiança quando rezamos ao Senhor.
O primeiro se apóia nesta proximidade divina que o Salmista mostra nas palavras (14, 4, 18): O Senhor está próximo dos que o invocam. Por isto o Senhor nos dá o aviso (Mt. 6, 6): Quando rezardes entrai em vosso quarto, quer dizer, no interior de vosso coração.
O segundo repousa no patrocínio dos santos. Por sua intercessão, podemos obter o que pedimos. (Jó 5, 1): Dirigi-vos a qualquer dos santos e São Tiago (5, 16): Rogai uns pelos outros, para que sejais salvos.
c) Se, quando dizemos ao Pai celeste,: Vós que estais nos céus, pensamos que céus designam os bens espirituais e eternos, objeto de bem-aventurança, então nosso desejo das coisas celestes se inflama. Nosso desejo deve inclinar-se para onde está nosso Pai, pois lá também está nossa herança. São Paulo diz aos fiéis: Procurai os bens do alto (Cl 3, 1) e São Pedro (1, 1, 4) nos fala desta herança incorruptível, que nos está reservada nos céus.O pensamento de que o Pai é nosso Bem espiritual eterno, objeto de nossa bem-aventurança, nos convida, com força, a levarmos uma vida celeste, a fim de nos tornarmos conforme o nosso Pai. Como é o celeste, assim também serão os celestiais, declara o Apóstolo (1 Cor 15, 18).
Estas duas coisas, o desejo da bem-aventurança do céu e o levar nesta terra uma vida celestial — nos predispõem incontestavelmente a rezar com devoção ao Senhor e dirigir-lhe uma oração digna de sua Majestade.
Sermões de São Tomás de Aquino

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