sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Meditação - Jesus Tratado como o último dos homens, por Santo Afonso de Ligório


Vidimus eum... despectum et novissimum virorum - Vimo-lo feito um objeto de desprezo e o último dos homens. (Is. 53,3)

    Eis a grande maravilha que se viu um dia no mundo; o Filho de Deus, o Rei do céu, o Senhor do universo, foi desprezado como o mais vil de todos os homens. Afirma Santo Anselmo que Jesus Cristo quis ser desprezado e humilhado nesta terra tal ponto, que os desprezos e as humilhações que sofreu não podiam ser maiores. - Foi tratado como homem de baixa condição; Não é ele porventura filho de um carpinteiro? Foi desprezado por causa da sua terra: Pode vir de Nazareth alguma coisa boa? Foi tido por douto: Perdeu o juízo, porque o estais ouvindo? Foi tido por glutão e amigo do vinho: Vejam o homem glutão, que bebe vinho. Por feiticeiro: É pelo poder do príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios. Por herege: Não dissemos nós bem que és samaritano?
    As maiores injúrias, porém, lhe foram feitas durante sua Paixão; e particularmente durante a noite em que foi preso pelos Judeus. Quando Jesus declarou ser Filho de Deus, o ímpio Caifás, tratando-o de blasfemo, disse aos demais sacerdotes: "Blasfemou: que necessidade temos agora de testemunhas? Vós mesmos ouvistes a blasfêmia. Que vos parece?" E eles responderam: "É réu de morte." Então, assim continua o Evangelista, cuspirando-lhe na face, e o feriram a punhaladas, e tratando-o como falso profeta, disseram: "Adivinha, Cristo: quem é que te bateu?".

    Numa palavra, foi então que se realizou a profecia de Isaias: "Entreguei o meu corpo aos que me feriam, e minha face aos que me arrancavam os cabelos da barba; não virei o rosto aos que me afrontaram e cuspiam e mim." No meio de tantas ignominias que nosso Salvador sofreu naquela noite, sua dor foi ainda aumentada pela injúria que lhes fez Pedro, seu discípulo, renegando-o três vezes, e jurando que nunca o tinha conhecido.
    Almas devotas, vamos a visitar o nosso Salvador aflito naquele cárcere, onde se acha abandonado de todos, tendo por única companhia os seus inimigos, que porfiam em escarnece-lo. Agradeçamos-lhe o muito que por nós sofreu com tamanha paciência, e consolemo-no com nosso pesar das injúrias que lhe fizemos, visto que no passado nós também fomos número daqueles que o desprezaram e pelo pecado negamos conhece-lo.
    Ó meu amável Redentor, quisera morrer de dor ao pensar que amargurei tanto o vosso Coração que tanto me amou. Por piedade, esquecei os desgostos que Vos dei, e lançai sobre mim um olhar de amor, assim como o lançastes sobre Pedro depois de sua renegação; desde então até o fim de sua vida ele nunca mais deixou de chorar o seu pecado. Ó grande Filho de Deus, o amor infinito, Vós que sofrestes por esses mesmos homens que Vos odeiam e maltratam; Vós sois o objeto da adoração dos anjos, a majestade infinita, e seria uma honra bem grande para os homens, se os admitísseis a beijar-Vos os pés. Mas, ah céus, como e que naquela noite quisestes fazer-Vos ludibrio de uma multidão infame?
    Ó meu desprezado Jesus, deixa-me ser desprezado por vosso amor. Como poderei recusar os desprezos, vendo que Vós, meu Deus, sofrestes tantos por meu amor? Ah, Jesus crucificado, fazei-Vos conhecer e fazei-Vos amar; fazei também que eu sempre tenha na mente a vossa Paixão. - Oh céus! Que pena não sofrerão os réprobos no inferno, vendo o muito que o Senhor sofreu para os salvar e que, não obstante isto, se quiseram perder! Meu Jesus, não permitais que eu seja do número daqueles infelizes. Não, nunca mais quero esquecer-me do amor que me mostrastes sofrendo por mim tantas penas e ignomínias. Ajudai-me a amar-Vos e a lembrar-me sempre do amor que me haveis tido. - Ó minha Mãe dolorosa, Maria, peço-vos a mesma graça.

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