sábado, 12 de dezembro de 2015

Ter paciência nas injúrias e perseguições

Por Santo Afonso de Ligório


"Outra ocasião de praticar a paciência nos oferecem as injúrias e perseguições a que, às vezes, estamos expostos. Não cometi falta alguma, dizes, por que deverei suportar pacientemente essa ofensa ou perseguição? Deus, certamente, não exige tanto! Mas não sabes o que Jesus Cristo respondeu a S. Pedro Mártir, quando ele se queixava de ter sido encarcerado injustamente? Senhor, que mal fiz eu para ter de sofrer esta perseguição? perguntava o santo. E Jesus crucificado lhe respondeu: E que mal fiz eu para ser pregado nesta cruz?

Se, depois, teu salvador, alma cristã, por amor de ti, quis sofrer a morte, não é muito se tu, por amor dele, receberes ultrajes. É verdade que Deus não quer o pecado daquele que te ofende ou persegue, mas ele quer que suportes pacientemente, por amor dele e para teu próprio bem, essas adversidades. "Se não temos o defeito que nos atribuem, diz S. Agostinho (In ps. 68,s.1), temos, contudo, outros; temos os nossos pecados, que nos tornam merecedores não só desses castigos, mas de outros muito maiores". 

S. Teresa nos deixou em seus escritos a seguinte memorável máxima (Cam. da perf., c.14); "Quem tende à perfeição nunca deverá dizer: Fizeram-me uma injustiça. Se não quiseres levar nenhuma outra cruz além daquela que mereceste, a perfeição não é para ti." Insultos e injúrias constituem a única alegria procurada pelos santos. S. Filipe Néri suportou durante trinta anos, em sua residência, na Igreja de S. Jerônimo, em Roma, muitíssimos maus tratos de um miserável; apesar disso, não queria abandonar esse lugar, não obstante os convites de seus filhos espirituais, que o queriam junto de si, em seu Oratório, recentemente fundado; afinal, só obrigado por uma ordem expressa do Papa consentiu em habitar com seus irmãos de Ordem. 

Todos os santos tiveram de sofrer perseguições aqui na terra. S. Basílio foi acusado de heresia junto ao Papa S. Dâmaso, S. Cirilo de Alexandria foi condenado como herege em um Concílio de quarenta Bispos e deposto de seu Bispado. S. Atanásio foi acusado de magia e S. João Crisóstomo de impureza. S. Romualdo depois de ter cem anos, foi acusado de um horrendo crime, de forma que se dizia que ele merecia ser queimado vivo. De S. Francisco de Sales inventaram que ele tinha comércio ilícito com uma mulher, e essa calúnia pesou por muito tempo sobre ele; só depois de três anos é que veio à luz sua inocência. Entrou uma vez no quarto de S. Liduína uma mulher, que começou a dirigir à santa as mais abomináveis palavras que imaginar se possam. Conservando Luduína a tranquilidade de costume, aquela miserável se enfureceu tanto que escarrou na face da santa; apesar disso, permaneceu ela inabalável em sua paciência. 

Não pode ser de outra forma: "Todos os que quiserem seguir a Jesus Cristo sofrerão perseguição", como diz o Apóstolo (2 Tim 3,12). Portanto, se não quiseres sofrer perseguição, nota S. Agostinho, é para temer que ainda não começastes a imitar a Jesus Cristo.

Quem foi mais inocente e santo do que nosso Salvador? Apesar disso, foram os homens tão longe na sua perseguição que o pregaram na cruz, na qual expirou, saturado de chagas e opróbrios. 

Para nos ensinar a suportar pacientemente as perseguições, São Paulo nos exorta a pensar constantemente em nosso Salvador Crucificado. Estejamos convencidos que, se suportarmos com paciência todas as injúrias, Deus mesmo tomará a si nossa justificação; e se ele permitir que levemos uma vida desprezada, o faz unicamente para recompensar com mais glória, no outro mundo, a nossa paciência. 

Em uma palavra: humilhação, pobreza, dores, toda a espécie de tribulações são, para uma alma que não ama a Deus, uma ocasião de se afastar ainda mais dele; para uma alma, porém, que está cheia do amor de Deus, são elas uma razão para mais estreitamente se ligarem a ele e mais perfeitamente amá-lo. 'Muitas águas não puderam extinguir a caridade', diz o Espírito Santo (Cânt 8, 7); sim, as tribulações, por maiores e mais numerosas que sejam, não podem apagar, em um coração que nada mais ama além de Deus, a chama do amor, antes, pelo contrário, a avivam cada vez mais. 

Escola da Perfeição Cristã. Pg. 299-300.

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