sábado, 7 de abril de 2018

DO AMOR DE DEUS

Não há idade na vida a que convenha mais a piedade, do que à mocidade, escreve Mgr. Dupan­loup, não só porque a piedade brilha nas frontes jovenís com mais resplendor; não só por causa do encanto inexprimível com que ela embeleza todas as qualidades naturais da infância, mas sobretudo por esta simples e profunda razão: é que a pie­dade não é outra coisa, senão o amor de Deus, e não sei que haja coração neste mundo a que seja mais fácil inspirar este amor que ao coração das crianças. Tudo aí está ainda puro, generoso, ardente: tudo aí está feito, para este nobre e santo amor, e essa bem-aventurada chama de vida acende-se com uma facilidade maravilhosa.”
Mas se o coração da criança é um santuário onde o amor divino se compraz em estabelecer a sua morada, também a inocência da primeira idade da vida reclama esse amor celeste para aí encon­trar a sua força e apoio. — «Efetivamemente, continua o ilustre bispo de Orleans, um homem já feito, pode vir a ser virtuoso, com uma religião sincera e sólida, posto que sem fervor; mas as crian­ças e os mancebos não o podem fazer, porque sem a piedade fervorosa, não têem nem bastante apoio, nem suficiente força para a sua virtude. Na sua idade, a fé não é ainda bastante profunda, nem a fidelidade bastante generosa, porque, como são corações tenros e fracos, caem facilmente, se a piedade os não sus­tentar.
Quem conhece, como eu, a fragilidade destas pequenas plantas, será também da mesma opinião. Sim, o sopro da graça eleva-as facilmente para o Céu, mas o sopro do vício, fá-las cair desamparadas sobre a terra. Quem lhes há de dar a força, para resistirem aos ataques do respeito humano, às influências dos maus exemplos e dos conselhos pérfi­dos, a todos os laços dum mundo corruptor e cor­rompido? Quem sustentará a sua fraqueza, sobre tantos declives e inclinações perigosas, e contra o mal que de toda a parte as cercará? Repito: se o temor e o amor de Deus, se a piedade corajosa lhes faltar, cairão infalivelmente. Despedaçar-se-ão os laços que os prendiam à virtude, e o sorriso da indiferença e do desdem, da impiedade e até do vício, será em breve visto sobre lábios frescamente tintos do sangue de seu Deus numa primeira comu­nhão.»
É preciso pois que o coração da mãe seja um foco que aqueça e abrase, com seus ardores, o cora­ção da criança. Convém que esse pequeno ser, que começa a sorrir, e por conseqüência a compreen­der, não repouse nos braços maternos, sem ler nos olhares e nas feições de sua mãe alguma coisa de celeste que a faça elevar até ao amor de Deus.
Seria preciso que as palavras da mulher cristã fossem como um raio ardente que inflamasse a alma da criança com o fogo da caridade. Ó mãe, falai de Deus, dos Seus benefícios, das Suas perfeições infini­tas a vosso filho e a vossa filha, logo desde o berço. Não entenderão a vossa linguagem, direis vós? Não importa. Deus vos entenderá e vos abençoará. Não gostaria um rei da terra de ver que as mulheres fala­vam das suas glórias aos filhos que elas embalam? Dir-lhes-eis muitas vezes: — «Meu filho, amas o teu pai e a tua mãe, porque te deram a vida, e porque te tratam com solicitude cheia de ternura; mas tens um Pai, no Céu, ao qual és incomparavelmente mais devedor do que aos pais da terra; é a Ele que deves a existência: foi Ele que te deu corpo, alma, pais, tudo o que és e tudo o que amas; sua benéfica mão é que te sustenta; o seu poder é que te con­serva. Destina-te o Céu, onde te dará uma torrente de delícias, por toda a eternidade. São infinitas para contigo as suas bondades, sendo impossível contar o número e o valor dos seus benefícios. Seria, pois, uma ingratidão não amares de todo o teu coração Aquele a quem deves tudo. Já se viram animais ferozes a seguir por toda a parte e servir fielmente quem lhes prestou algum serviço, como aquele que arrancou o espinho que fazia sofrer um leão; seria pois mais insensível que esses animais, quem não ser­visse Aquele que nos encheu de tantos favores. Ah! meu filho, não possuirmos nós os corações de todos os homens, para os oferecermos a Deus, e nem assim poderíamos amá-lO como Ele merece!
«Amas também as pessoas e as coisas, em que notas qualidades que te agradam; de tudo quanto notaste de bom, de belo, de perfeito, nos homens, no Céu e na terra, nada te pode dar uma idéia das perfeições infinitas de Deus. A Sua beleza é infinitamente mais brilhante que a do sol e de todas as estrelas conjuntamente; a Sua bondade é incompreensível; o Seu poder é sem limites. Se, pois o nosso coração se apraz em amar o que é belo, o que é santo, o que é perfeito, como é que ele não amará Aquele que é a própria beleza, bondade e perfeição?
«Queres amar a Deus, querida alma? Sim, sem dúvida; foi para isso que Ele te criou. Pois bem, mos­tra-Lhe o teu amor, por meio de obras. Não só O não ofendas nunca pelo pecado, mas faze tudo quanto Ele te ordena; não vivas senão para Lhe agradar; ama a oração e tudo o que honra este bom Senhor.»
Depois destas lições ou doutras semelhantes, a mãe segundo a vontade de Deus fará sentir a seus filhos a desgraça dos que não amam o Senhor, e a felicidade de todos quantos O servem. Dir-lhes-á, com S. Paulo: — «A piedade é útil para tudo, tanto para nossa consolação neste mundo, como para nossa salvação eterna.» —«As crianças, diz ainda o bispo de Ordeans, imaginam de ordinário a piedade como uma coisa triste e sem atividade, isto é fa­zem dela uma idéia sombria; enquanto que a li­berdade, o brinquedo e o desregramento se lhes afiguram muitíssimo mais agradáveis. Não há coisa pior. É preciso, pelo contrário, que se lhes mos­tre a religião com um rosto meigo e sedutor, sob as feições duma mãe terna que não pensa senão na ventura de seus filhos.»
«A piedade nada tem de austero, nem de afe­tado; é ela que dá os verdadeiros prazeres; só ela os sabe temperar, para os tornar puros e dura­douros. Sabe misturar os brinquedos e os risos com as ocupações graves e sérias; prepara o pra­zer pelo trabalho, e descansa do trabalho pelo prazer. A piedade não se envergonha de parecer alegre, quando isso é necessário.»
Quando tratarmos da oração e dos sacramentos, falaremos dos exercícios mais próprios para con­servar a piedade no coração das crianças.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SEJA UM BENFEITOR!